1.
(Tauane Rangel)
Ondas mecânicas
Abandono o meio material e danço
Espalhando o caos
De forma inces(antes só)
Agora assumo a companhia de minhas pernas
Que mexem sem que eu possa prever seus movimentos
Pra lá e pra todo lado
Parte de mim e do todo
Cada onda e sua inevitável interferência
Destrutiva construtiva resultante
Caminho para todos os lados
Vou longe
Sem sequer sair do lugar
Propagação energia perturbação toque
Chego a lugares que sequer previ e ecoo
Atravesso paredes e percebo que me tornei uma onda eletromagnética
Caminho no vácuo
Dimensão matéria escuridão átomo
Ninguém mais me para e eu encontro o infinito
Para eu continuar daqui; “Ninguém mais me para, e eu
encontro o infinito...”
- Pensando nisso, eu pensei em como ninguém poderia me
parar, e assim eu encontro o infinito!
Eu encontro o infinito, através de minha ferramentas. E descobri
nesta pandemia que meu quarto é uma ferramenta gigante, onde eu guardo pequenas
ferramentas, para poder encontrar universo e fazer ninguém me parar!
Ai pensei em fazer uma ilustração disto, como fazer isso
como ILUSTRAÇÃO!?
Pedaços de imagens, que quero transformar em ilustração! ...
“Como diabos ninguém mais me para, e encontro o infinito?!”
- Preferi fazer a
curvatura do círculo começando por minha porta; tenho um “Salvador Dali”
encontrado dentro de um tele entulho, que é sobre a guerra da Espanha, e é uma
das poucas obras que por não ser minhas não estão na parede, elas ficam na
porta. A porta é u local onde quero pendurar somente presentes e achados, coisa
“não minhas”.
Saindo da minha porta, ao lado tem uma “Mona Lisa” que
descolei da Ong onde eu trampo, esta ong, me deixou pegar a Mona Lisa para
reutilizar a moldura, só que esta versão de Mona Lisa que peguei para arrancar
a moldura não tem assinatura, ela foi uma ferramenta, que algum cara usou para
poder estudar pintura, e não tem assinatura nela, e eu quis deixar aquela Mona
Lisa ali, porque a assinatura do cara que a estudou, não está ali, ela vai
ficará ali como ferramenta! Do lado desta Mona Lisa há um monte de papelão, em
cima de uma guarda roupa, ganhado de um parceiro meu que mudou-se aqui da
república. Este monte de papelão, me faz lembrar que eles são ferramentas, que
posso usar fazendo mascaras, papelagens, modelagens, seja o que for! Como o
cara que usou a Mona Lisa ao do lado usou! Do lado destes papelões tem uma
mochila gigante, que consegui em um brique muito bom, e que eu brinco que posso
carregar um anão dentro dela, saca, eu posso carregar uma “pequena vida” dentro
da porra desta mochila gigantesca, eu posso viver uma semana carregando coisas
dentro dela, e levo ela para tudo quanto é evento, onde já descolei um monte de
gente boa, que me deram um monte de fermentas mentais para poder ser quem, sou
hoje. Ao lado desta Mochila tem um monte de pastas achadas no lixo, que juntei,
e dentro de cada fragmentinho, de cada “frasco” destes achado no lixo, tem um
monte de informações, sobre um monte de coisas que gosto, e ali vou acumulando
material, acumulando informação e melhorando esta ferramentas! Debaixo destas
pastas achadas no lixo tem um monte de material massa, e tenho uma mesa, onde
ontem, nela estava cortando e modelando quando fatiei um pedaço do meu dedo com
um bisturi, este bisturi também foi uma ferramenta, um bisturi antigo pra
caralho, o limpei, higienizei, e o uso como uma ferramenta foda e afiada pra
cacete! Ela foi ferramenta pra cortar gente, agora ela corta pedaços de coisas
que vão virar arte, que representam, pedaços de gente. Estou usando uma
ferramenta que um cara utilizou para poder fazer ideias dentro de gentes. Do lado desta mesa a uma outra, tenho muitas
mesas cara, ... esta mesa é uma mesa de vidro, onde consigo ver minhas canelas,
e um monte de caixinhas de ferramenta de baixo dela, comprei de uma baita
parceira que foi pra Porto Alegre fazer a vida dela de outra maneira, paguei 90
pila. Mesa boa, mesa forte! Tampo de vidro transparente, translúcido! Consigo
ver através desta mesa, vejo meus pés, através desta mesa. Como esta outra
artista foi pra longe, mas usou esta mesa como uma ferramenta, ela está aqui
agora, e está sendo muito bem usada! Um lixedo em cima dela, sementes, um
pequeno jardim em cima dela, pra me lembrar que estas pequenas plantinhas,
estão ali pra me lembrar de que elas são ferramentas de coisas que eu “quase”
controlo, eu quase controlo vidas! Aquelas plantinhas que estão ali pra eu brincar
de “quase” ser Deus. Do lado de meu jardim, um monte de livros, e em cima
destes livros, um monte de garrafas. Tanto as garrafas como livros são
ferramentas. As ferramentas garrafas são as que bebi com meus parceiros, ou
sozinho. Tendo um monte de ideias, também as tendo com o monte de livros abaixo
delas! E muitos destes livros eu fazia apostas – bebendo pra caramba – do tipo
“ eu pego este teu tal livro, e tu escolhe um outro meu!”... Alguns dos deles
ainda estão aqui, e alguns dos meus ainda estão na casa deles, e sem inimizade
nenhuma, isso foi uma ferramenta de novo! Para eu poder pensar que, que
material deles e meu podem ser misturados, sem ninguém brigar com ninguém independente do
tempo que vamos trocar ideias de novo. Do lado destes livros e garrafas, tem um
“pano hippie”. O cara que foi meu “pai hippie” me ensinou que pode-se fazer a
caixa do mercado sorrir, em um domingo de tarde, me ensinou a simplicidade como
uma ferramenta. Este pano na parede cheio de brinco me lembra de que ele me
ensinou que “siiiiim”, a gente pode fazer pessoas sorrirem sendo uns chinelão
comprando cerveja, e isso é uma ferramenta. A baixo deste pano tem taças,
alguma roubadas de bares, alguns copos ganhados de presente, de garçons muito
lokos, que roubaram do patrão, para poder me dar de presente o copo, abaixo um
facão, abaixo uma espada samurai, ferramentas bem distintas; facão de um cara
do mato, este foi herança de família, ferramenta para cortar mato, galhos, ao
lado uma ferramenta oriental, toda centrada, duas ferramentas, duas para
cortar. As duas com coisas tão distintas, mas ferramentas para cortar! Embaixo
delas, um outro lixedo que acumulei com o passar do tempo, tem boneco do
coringa, barquinho de presente de amigos de praias que nunca nem coloquei os
pés, tem carrinho de fricção, tudo pequeninhas ferramentinhas, que não me fazem
para pois tem um pedacinho de cada um nelas, e são ferramentas que me fazem
continuar. Dos lados, três caixotes rústicos, chumbados a parede. Um deles com
tintas e colas, outros com dentes – humanos até – velas, pedaços de cabelo,
chifre, um castiçal que um brother me trouxe de um cemitério – supostamente de
cobre. Isso é uma história, ele está ali! Para lembra deste meu parceiras e das
nossas loucuras, ele é uma ferramenta! Tem mais ferramentas ainda cara, mas vou
rodopiar, e voltar a porta.
Um monte de ferramentas destas, dentro do meu quarto. Elas são
fragmentos de memórias, das pessoas que foram também ferramentas pra mim!
Assim termino este desafio, pela moçinha que toca seu violino,
aquela belíssima criatura! Sendo que “o que não me faz parar, e que me faz
querer continuar estas batalhas são “ferramentas”, quais são suas ferramentas,
para deixar o mundo melhor, do que pior?!
3.
(Giulia Cittolin)
(Ondulação pérnica tauziana)
4.
(Lucas Quoos)
observo o pequeno infinito. átomos de grama molhada. a cidade neblina. bebo cachaça & cerveja ao mesmo tempo. acendo um cigarro e observo a grama molhada. a fumaça embaralha o ar gelado. a ponta do baio distorce a vista como o asfalto quente nas corridas de fórmula um no verão. sinto falta do verão embora ame o frio. a gente sempre vai sentir falta de algo na vida. lembro que pensei nisso há pouco, lembrando da compreensão, escassa no planeta; que não é nem o terceiro maior dos que dão voltas no sol, que é habitado por seres como nós que, apesar de menores ainda, são capazes de fazer tanto mas tanto barulho. que são aventureiros e desbravam o espaço e o oceano. que fazem do amor e da solidão coisas táteis, profundas e misteriosas; que sofrem a doença do verbo -- o homem é o animal tagarela, dizia Cioran -- o silêncio é impossível, só alcançamos a sua imitação. sorrio ao lembrar de um poema e de uma garota que sorriu ao ler esse poema. uma garota tão insignificante quanto eu e você. sinto falta de uma tarde e de um cara que conheci só por uma noite, não sei por que a memória dele me veio agora. gosto muito desse cara e de sua decadência. e gosto dessa garota e seus beijos elípticos, como as voltas que o planeta dá em sua estrela. e gosto de tudo que é decadente. e o poema dizia: foda-se. e o horizonte se estendia na neblina. e o sol superaria o inverno. e o mundo acabaria um dia. tenho parado para brindar apenas à morte e ao fim, porque são as ilusões distópicas que nunca mais irão acontecer; o ser, o universo, o buraco vazio. e a minha amiga dizia que temos que transferir o órgão: o cu será o novo centro. como o universo negro buraco cheio de facas e facas. a lua oca ressoando vibrações morais como um sino lá no céu. não gosto dos que enganam a existência com explicações de morte. eu quero botar fogo nas catedrais. quero observar, do lado de fora, a chama cintilando nos vitrais. eu acho que to gostando muito dessa garota. eu penso nas noites com ela. eu gosto muito dela.
5.
(Bruna Abraão)
Quem foi que separou o corpo do corpo?
Pés
Mãos
Cabeça
Buceta
Pênis
Coração
Membros e Órgãos
Encarcerados
a uma única função
Andar. Pegar. Pensar. Foder. Se abrir. E se desesperar
Fatiado como um presunto
o corpo é impedido de apreender o mundo
e de escutar sussurros
Corpo colônia
vestido de moralismos e vergonhas
Carregando angústias e propagandas
por cima do couro tensionado
aliciado pelo capitalismo
e delírios de Hollywood.
Vai triste e de cabeça baixa
para o trabalho
O corpo do operário
Obedecendo o horário
por um salário de fome
Vai triste também o corpo do artista
que não encontra saída
Nem público. Nem palco
para explicar sua ira.
Vamos tristes todos
e cansados. cansados
Casados com tédio. horror e sacrifícios
Sobrevivendo
moribundos
ao desalento
ao desengano
e a fome
De liberdade
Êxtase e descanso
num paraíso
prometido
aos que chegarem ao seu destino
Mas Destino meu bem
é Desatino
Então chega de esperar sentado
de braços cruzados
com os músculos estacionados
O corpo é matéria pra botar no espaço
Chega de fingir que você só quer uma casa
Ou um apartamento
filhos, um carro e casamento
dormir, comer e cagar
O que palpita aí dentro
a gente sabe que é bem mais denso
e extenso
Portanto,
Se atire no chão
e se atrite
até quebrar todos os ossos
até você se tornar inútil
A utilidade é o cárcere da imaginação humana
Pegue uma tesoura. Uma faca. Um estilete
corte-se
recorte-se
Pegue uma cola. Um barbante. Um durepox. Uma agulha. Uma linha
E se refaça
Pregue a genitália na testa
e as pernas nas orelhas
Pense com prazer
E escute aquilo que impulsiona a sua ação
Basta de ser prisioneiro da história
Memórias e Paranoias
do Ocidente
Oriente-se
GEO-gra-fi-ca-MENTE
Desenhe um mapa
em cima
do seu ventre
Aperte o seu umbigo
converse comigo
Por onde você deseja andar meu amigo?
O corpo é uma aventura
a ser descoberta
fissuras
lacunas
desertos
praias
e áreas
não exploradas
Destrua os relógios
Vista as sua galochas
Piche um muro
Escandalize a cidade
onde você mora
Não se dobre
roube os livros que você precisa ler
Leve um casaco quente na mochila
um caderninho
um radinho
fones de ouvido
e lápis para escrever
Fique sozinho
e encare o precipício
mas não se mate
enquanto ainda temos chance
de inventar
e viver
Muna-se de todas as suas ferramentas
treine tiro ao alvo
Não espere o tempo te deixar calvo
para se sentir revoltado
você não será salvo
por Deus ou Dinheiro
Teu travesseiro
bom conselheiro
Te acorda
pra dizer isso
faz meses
Ligeiro. Ligeiro
Não levanta por menos
Pão. Sim. Mas também educação
Teto. sim. Mas também decoração.
Orações. Cooperação. Interações. Respirações. Meditações
Aspirações. Inspirações
Ser gente
Ser bicho
Ser mãos
Ser pernas
Um tórax
de peito estufado
BLINDADO
contra o assalto
da linguagem
da televisão
e da reprodução
do padrão
corpo sem órgãos
devir-a- ser
corpo-invenção
e proclamação
6.
(Julia Manfroi)
num limbo entre a consciência do absurdo e a ilusão
volto a contemplar o infinito que agora é pura metafísica
metáfora, talvez
podemos ser seres-infinitos
do princípio em que o teatro é o único lugar do mundo onde um gesto feito não se faz duas vezes
onde a sensação de tempo não existe
nos reinventamos a cada papel e posteriormente são infinitas as possibilidades
onde a tragédia não tem sentido literal
nos encontramos com a mais pura sensibilidade
que viaja pelo corpo
e se entrega
se interligando para além do físico
para além da mente
sejamos esses corpos sem forma
artísticos
para além do palco
é preciso acreditar num sentido de vida renovado pelo teatro.
7.
(Giovano Durante)
CronoKaput
8.
(Giulia Cittolin)
9.
(Giovano Durante)
10.
(Tauane Rangel)
11.
(Julia Manfroi)
Sinto falta de ser mais que um ser latente, virtual
as uso agora, mas a cada dia novo, normal, fica mais
perceptível que apenas palavras não bastam para a expressão.
e isso vai muito além da ideia habitual que temos das outras
formas, das quais em parte, estamos limitados no momento
é claro que é necessário girar, explorar possibilidades sem
percepção de si, deixar que os outros tenham, que os outros vejam.
afinal, qual seria o sentido dessa linguagem se não se
comunicar?
ser mais que um ser latente, virtual
porque não há nada que substitua o devir do cotidiano, que
acaba por dizer sobre nós, mais que nós mesmos – e para cá não há espaço para o
devir; diferença sim, devir não (diferença que aqui, é um comercial de
televisão)
nada que substitua movimentos.
acender um isqueiro na rua (como todo mundo)
...
agora nem o cigarro tenho, e talvez ele entre os dedos,
repartido com pessoas sem máscaras (literais ou não)
seja mais poético que Piva em “Um Estrangeiro na Legião”
mas tudo bem, falar não mudará os fatos, palavras não fazem
revolução
e espero que o século XXII me de razão.
12.
(Bruna Abrão)